A APEOralidade tem, ainda, ao seu dispor o livro do Poeta Clementino Baeta, Almancil, discípulo querido de António Aleixo a quem escutou nas tertúlias poéticas da Bordeira, desde os 6 anos de idade. O poeta ao apagar-se o Patriarca das letras populares alarga a sua visão do mundo emigrando para Venezuela. Não encontrei, entre os populares, uma visão tão rica do homem, do mundo, da mulher, do amor, da vida. Não encontrei, entre os poetas do povo, quem conciliasse de modo tão elevado a profundidade e pertinência do sentido critico, obediência e criatividade na prática poética tradicional.
CUMPRIR ABRIL
Até
ao ano dois mil
Será
possível, Deus meu,
Que
o vinte e cinco de Abril
Não
cumpra o que prometeu?
Sem perder a
confiança,
O povo humilde
e servil
Vai esperando
com esperança
Até ao ano
dois mil.
Falta emprego
à juventude
E protecção ao
plebeu.
Que até lá
nada demude
Será possível,
Deus meu?
Já existe quem
implore,
Com razão ou
por ardil,
Que surja um
dia melhor
Que o vinte e
cinco de Abril.
Mas será que a
liberdade,
Que em Abril
floresceu,
Mesmo com
morosidade
Não cumpra o
que prometeu?
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