Os provérbios estão vivos e recomendam-se no Algarve | ||
Investigadores nacionais defendem que provérbios não correm risco de extinção, mas alertam para a falta de recolhas populares. Algarve tem sido excepção, embora o volume de trabalhos de pesquisa seja ainda reduzido. É possível falar de provérbios durante dez dias? Mesmo em inglês? A resposta é «sim» e a iniciativa teve lugar em Tavira, até à passada segunda-feira, onde decorreu o primeiro colóquio internacional sobre provérbios, que reuniu os quinze maiores especialistas sobre o tema. A discussão dos problemas associados às dificuldades de tradução foram importantes para perceber que expressões como «it´s raining cats and dogs» [à letra, está a chover cães e gatos] têm equivalentes na língua de Camões e remetem para a popular expressão proverbial «está a chover a cântaros». Traduções à parte, também houve argumentos suficientes para dizer que os provérbios estão para ficar em todas as línguas e até para passar a mensagem de que «os provérbios estão vivos no Algarve». Esta expressão já deu inclusivamente título a uma publicação de José Ruivinho Brazão, investigador e presidente da Associação de Pesquisa e Estudo da Oralidade (Albufeira), que reuniu centenas e centenas de expressões proverbiais que correm na boca das gentes do Barrocal. Só na aldeia de Paderne, onde incidiu a sua pesquisa, Ruivinho Brazão, um dos poucos estudiosos sobre os fenómenos da oralidade na região do Algarve, encontrou cerca de seis mil enunciados proverbiais, muitos deles com um forte cunho regional. «Muitos coincidem com os provérbios que o investigador Pedro Chaves já identificou no Norte, mas a verdade é que a aldeia de Paderne conseguiu produzir as suas próprias variantes e as adaptou às sua realidade», exemplificou o investigador ao «barlavento». Rui Soares, membro do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Universidade Nova de Lisboa e organizador do seminário, vai mais longe e acredita que os provérbios «são uma das componentes da identidade nacional», defendendo mesmo que as expressões idiomáticas ou proverbiais não correm «risco de extinção». «A criatividade e as características de cada região apresentam tendência para criar cada vez mais provérbios. Um dia destes, dizer qualquer coisa como ‘todos os caminhos vão dar a Tavira’ pode tornar-se um provérbio desde que o uso seja assimilado pela população local», explica Rui Soares. É aliás para registar estar estas evoluções que José Ruivinho Brazão insiste na necessidade de uma recolha constante, alertando para a falta de pesquisa sobre questões de oralidade na região do Algarve, que tem estado limitada a iniciativas autárquicas pontuais ou a projectos de recolhas populares, como o caso do grupo «Moças Nagragadas». «Se até agora os provérbios meteorológicos eram verdadeiros, e muitos estavam adaptados às características do Algarve ou do País, daqui em diante [e com as alterações climáticas] podem deixar de ter base cultural ou real e perder-se», exemplifica Ruivinho Brazão. 19 de Novembro de 2007 | 09:25 Filipe Antunes |
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Notícia do Jornal Barlavento - Os provérbios estão vivos e recomendam-se no Algarve
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