segunda-feira, 22 de setembro de 2014

FELIZES ACASOS

INFORMAÇÃO BREVE SOBRE A APEORALIDADE E MOÇAS NAGRAGADAS

Desci de Lisboa, em 1994, no desejo de apurar em que medida sobreviviam os provérbios que encontrara estreitamente aliados à nossa poesia nascente dos m. do séc. XIII. Constituída uma equipa de investigação – Dulcelina Coelho, Solange Castro e Brito, Isabel Lima –, fixamo-nos nos dois microcampos de Boliqueime e Paderne, ponto de partida para a pesquisa e estudo da oralidade em visão contrastiva.

Ali tão perto das minhas origens, surpreendiam-me a multiforme riqueza e diversidade dos enunciados que subsistiam na oralidade do barrocal da região do Algarve: lengalengas e travalínguas, adivinhas e despiques, quadras, cantares, romances..., entrelaçavam-se-me espontâneos nos provérbios, ultrapassando toda a expetativa: e aparece, em 2002, a APEOralidade a consolidar o trabalho de investigação com publicações bibliográficas e fonográficas e a promover a sensibilização e divulgação do Património Imaterial, felizmente preservado na oralidade da comunidade regional.

De repente, eis que trocara a pedagogia de aula pela pedagogia de campo. Algumas entre as melhores informantes, como a Almerinda e a Donzelica e a Leonor, deixam-se envolver, ao meu lado, dinâmicas e eficazes no trabalho de pesquisa e, por vontade própria, aceitam constituir-se em grupo de cantares: chamei-lhes Moças Nagragadas. Envergando livre trajo domingueiro e, por amável concessão da sociedade dos anos 30 (séc. XX), a saia um palmo acima dos tornozelos, integram-se desde 2003 na APEOralidade: de muito longe, do país e do estrangeiro procuradas, elas aí estão. Coordenadas por Nelson Conceição, constituem estímulo e credibilidade no esforço do investigador.

A este feliz acaso das minhas Nagragadas um outro sobreveio: o da envolvência na divulgação dos dados, na sensibilização da comunidade, na Pedagogia da Oralidade: em 2012, mercê de protocolo coma DREAlg, numa ação que envolve as Nagragadas, o Património Imaterial, recolhido na oralidade dos Concelhos de Albufeira e Loulé chega às bibliotecas escolares de toda a Região do Algarve e confirma-se a escola como destino primeiro e natural da fina cultura da nossa raiz comunitária, que ainda persiste no coração e na mente de alguns a quem muito urge ouvir.

J. RUIVINHO BRAZÃO 




  email: apeoralidade@gmail.com; Telemóvel: 961040483; Telefone: 289542992  

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